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COMO FICA A CRIANÇA APÓS A SEPARAÇÃO DOS PAIS POR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA?



A família é uma instituição muito importante em nosso mundo. No entanto, graças à luta constante de alguns movimentos sociais, a mulher conquistou direitos igualitários, e ainda mais importante do que leis e papeis, a mulher se emancipou e se empoderou, deixando para trás algumas ideias rígidas de família e de casamento. A mulher agora decide com quem quer se casar, decide trabalhar ou não, decide ter filhos ou não, decide se separar ou permanecer no casamento. Porém, isso tudo é muito bonito na teoria. Na prática do dia a dia, ainda existem muitos preconceitos com mulheres separadas, especialmente a mulher que decide se separar e tem filhos para cuidar.

Na nossa sociedade, ainda vemos muitas pessoas (homens e mulheres) que mantêm a ideia de que a mulher deve cuidar das crianças e da casa, enquanto o marido trabalha para sustentar financeiramente a família e dita as regras da casa. Isso não teria nenhum problema se fosse uma decisão igualmente combinada entre o casal. Mas não é isso o que se vê. Ainda existem muitas pessoas com visões distorcidas de um mundo em que o homem deve mandar e a mulher deve obedecer, mesmo que seja necessário usar força física e manipulações emocionais para manter esse funcionamento doentio de relação conjugal. Muitas vezes, a mulher se submete às regras do marido, acreditando que esse é o melhor para ela e para os filhos, esquecendo que ela é uma pessoa que merece e precisa de dignidade, respeito, confiança, que sabe pensar e tomar suas próprias decisões. Assim como o marido e os filhos também são pessoas que merecem e precisam de tudo isso. Quando a violência acontece entre um casal, seja violência física, emocional, sexual, patrimonial, todos precisam ser cuidados, tanto o casal e também os filhos, se existirem. Não existe justificativa para as violências, mas nós sabemos que elas estão dentro de nós (tanto do agressor quanto da vítima), e por isso mesmo, precisam de cuidados intensos e prolongados. Assim, é preciso pedir ajuda logo que acontece o primeiro sinal de violência, pois “onde há fumaça, há fogo”. Não se pode esperar para pedir ajuda; todos os envolvidos (o casal e as crianças) correm perigo nessas situações. As dependências, seja financeira e principalmente a emocional, são questões muito presentes em casos de violência doméstica. No entanto, elas não definem as mulheres e podem ser superadas. O mais importante é encontrar uma rede de apoio que não julgue a mulher e que a coloque em posições melhores e mais acolhedoras. Mas há esperança depois de um casamento que se tornou violento? Existe, sim, e nós estamos trabalhando para que a esperança se torne rapidamente o afastamento do agressor, um emprego novo, uma casa nova, uma rede de apoio forte, sempre com a ajuda de profissionais atentos e sensíveis. E se a mulher decidir se separar, como ficarão os filhos depois da separação? Os filhos são muito sensíveis ao que o casal parental vive. Então, se os filhos estão presenciando brigas e conflitos constantemente, eles também estarão vivendo conflitos internos, questionando: por que há tantas brigas e tanta violência? Será que é assim que se tratam os adultos casados? Será que eu posso tratar as pessoas assim também? Será que é preciso usar de violência para se conseguir o que quer? Será que é preciso usar violência para resolver os problemas? É preciso lembrar que uma das formas iniciais do ser humano de aprendizagem é por imitação. Então, quando os filhos veem os pais se tratando com desrespeito e violências se torna altíssima a chance do filho reproduzir as violências vistas e vividas (justamente porque os filhos também têm violências dentro deles, como citado acima), e as pesquisas científicas confirmam a reprodução intergeracional das violências. Por isso, o melhor a se fazer quando há um primeiro sinal de violência é acionar a rede de apoio (pode ser um parente, amigo, um projeto social, mas principalmente a polícia) e se afastar do agressor. Após o afastamento do agressor, os filhos perceberão que a convivência sem violência dá espaço para o desenvolvimento, a construção de algo bom e a vida, enquanto estar em um ambiente violento gera angústia, dor, destruição e muitas vezes, a morte. As crianças e adolescentes precisam de ambientes seguros e de confiança para poderem se desenvolver de forma saudável, tanto física quanto emocionalmente. Assim, eles preferem estar com pessoas em quem confiam e que os protegem, do que ter coisas (que o dinheiro pode comprar).

Os filhos também são capazes de superar os traumas, independente da idade. Eles precisam também de muitos cuidados após uma separação conjugal, e devem receber apoio psicológico, suporte familiar, sem segredos nem mentiras ou exageros, sendo que as conversas sempre devem ser de acordo com a idade da criança ou do adolescente. Então, é preciso escolher a vida, no seu sentido mais realista e concreto, mas também pelo lado mais poético: de alegria, de transformações, de coragem, de apoio, de empoderamento, de autonomia, de acreditar, de força, etc. E aí, o que você vai escolher?


Autora: Lia Brioschi Soares Psicóloga

CRP 06/104.899

Especialista em Psicologia Clínica Doutoranda USP

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